quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Promessa ou terror?

Goya - O sono da Razão

Max Weber observa, ao estudar as religiões, a existência nas sociedades de um ciclo entre dois modos religiosos fundamentais: religiões de salvação – que perseguem uma meta transcendental, via profecias e líderes carismáticos – e religiões de aceitação, que promovem a adaptação do homem ao mundo, mediante regras e rituais.As primeiras possuem um potencial revolucionário, na medida em que se propõem a mudar o mundo, ou pelo menos a não aceitar a sua realidade e suas leis como um valor supremo.
Segundo Weber, um padrão semelhante se observa em relação ao Direito: uma passagem, das sociedades tradicionais regidas pelo sagrado, à lei dos juristas, racional e impessoal.
No campo da Economia, igualmente, as universais regras do mercado passam a predominar sobre as antigas regulações econômicas baseadas no costume ou na religião. Das leis do mercado não se pode afirmar que sejam injustas: as “injustiças” (desfavorecimentos, exclusões) que distinguem as classes decorrem de regras racionais (gerais, válidas para todos) e não da tradição, como os privilégios de castas.
O problema, que Weber reconhece, é que pela política racional e pela organização econômica do mercado os desfavorecidos não conseguem “virar o jogo”, mas na melhor das hipóteses chegam a obter um certo alívio para a sua situação de inferioridade.
O que parece estar ocorrendo no nosso país e em boa parte do mundo – a chamada “crise da representação”, a desconfiança nas instituições –  poderia ser um sintoma de que “as massas” estão sentindo que dentro da racionalidade política do capitalismo e das regras da democracia representativa elas não têm e não terão vez?
A saída pela adaptação, a trabalhosa busca individual, nem sempre recompensada, de ascenção pelo caminho da educação e da carreira profissional entusiasma cada vez menos, especialmente aos jovens, descrentes dos horizontes que o sistema lhes apresenta .
Outra saída, mais atraente, seria então uma política carismática de massas que começasse tudo de novo. Chávez, Lula-nunca antes nesse país, representariam a esperança nessa promessa de um novo ciclo de salvação, onde as leis e as instituições perdem a sua vigência e uma nova profecia acena com um outro mundo possível. O caminho da salvação requer sobretudo a confiança cega em lideranças carismáticas, que contestam ou parecem fugir da “racionalidade do sistema” para trazer mudanças, “na lei ou na marra”.
O grande problema é que as lições da História, até agora, não têm sido muito animadoras em relação aos resultados dessas viradas radicais. As “grandes revoluções” do século XX se desfizeram em fracassos econômicos, depois de passar, muitas delas, por banhos de sangue e opressões sociais.
Na tipologia de Weber parece estar faltando o tipo de saída que mais avanços tem produzido na História recente da humanidade, e que com certeza está também presente nos movimentos populares no Brasil e na América Latina. Nem adaptação, nem salvacionismo: é a constante pressão da sociedade organizada pela defesa e ampliação dos direitos, pelo reconhecimento das diversidades e pelo aprofundamento da democracia o que tem produzido os melhores resultados – forçando os limites da racionalidade do sistema para fortalecer e não abolir as leis e as instituições.
O remédio para o desencanto do mundo (Weber), para o malestar na civilização (Freud) produzido pelo domínio da racionalidade instrumental na vida humana não está numa volta à irracionalidade, mas em mais e melhor Razão.
Se “só através da magia a vida permanece desperta” (Stefan George), é preciso lembrar também que “o sono da Razão engendra monstros” (Goya – que sabia do que estava falando).
A tênue linha divisória entre forçar os limites da racionalidade econômica e política e rompê-los pode significar a enorme diferença entre a promessa e o terror.
Rejane Xavier
Setembro 2010

sábado, 4 de setembro de 2010

O poder da imagem

Um feriado na Esplanada, sob o olhar do Brito


Orlando Brito é um dos fotógrafos mais poderosos que conheço!

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