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FOTOGRAFIA: descrição, interpretação, realidade ?
‘You don’t take a
photo, you make it’ – Ansel Adams.
A contraposição entre descrição (fiel, objetiva, “fotográfica”) e interpretação (subjetiva, “distorcida”) da realidade remete a um referente externo, “o mundo tal como ele é”. A este mundo – o mundo real – se atribui a capacidade de medir as diferentes “formas de abordagem” por seu maior ou menor “realismo”, isto é, de fidelidade ou proximidade ao modo como ele é.
Para tentar explicar
por que entendo que tanto esta contraposição entre descrição e interpretação,
como a noção de realidade que lhes é correlativa são enganadoras, acredito que seja útil traduzir partes do
importante artigo de Nelson GOODMAN, "The Way the World is".
Toda descrição,
poderíamos dizer, na linguagem da epistemologia dos anos 60, é sempre já
"theory-ladden", impregnada de teoria. O que vemos não são as
variações de energia das ondas luminosas que impressionam as nossas retinas.
Nosso cérebro processa de modo extremamente complexo a estimulação visual que o
olho capta através de mecanismos eles próprios seletivos. Somos sensíveis
apenas a uma fração do espectro luminoso, e a estímulos que perduram acima de
um certo tempo.