segunda-feira, 7 de março de 2011

COMPETÊNCIAS EM FILOSOFIA: SUGESTÃO

Compreender a natureza, e o seu lugar dentro dela, é filosoficamente importante para o homem
No contexto de uma discussão sobre quais seriam as competências esperadas ao cabo da graduação em Filosofia, para fins de avaliação pelo Enade/2005, encaminhei a sugestão de que se acrescentasse às mesmas a capacidade de “relacionar o exercício da reflexão filosófica às conquistas e avanços do conhecimento científico da natureza”. Penso que isso ainda merece consideração.
  
 Competências em Filosofia: Sugestão
A Filosofia, de suas origens ao pensamento atual, sempre se voltou aos grandes temas que desafiam a compreensão humana: o mundo exterior, a existência humana, a transcendência. O que posso saber? O que devo fazer? O que posso esperar? são as três perguntas básicas de Kant, que se resumem numa quarta: O que é o homem?

Na Crítica da Razão Pura, as três perguntas fundamentais que Kant lança têm como objetivo responder à primeira daquelas indagações. “O que posso saber?” se desdobra, aqui, em “Como é possível a matemática pura? Como é possível a física pura? É possível a metafísica? “


Já na conclusão da Crítica da Razão Prática, ele destaca “duas coisas [que] enchem o ânimo de crescente admiração e respeito, veneração sempre renovada quanto com mais freqüência e aplicação delas se ocupa a reflexão: o céu estrelado por sobre mim; a lei moral dentro de mim”. O conhecimento do mundo exterior (Kant se ocupou seriamente de astronomia e de geografia) tem um lugar dentro da antropologia: “o lugar do homem no cosmos”[1] faz parte da autocompreensão humana, está incluído na grande pergunta-chave “O que é o homem?”.

Em Kant essa relação entre o conhecimento teórico e o agir moral recebe uma formulação particularmente clara, mas ela está constitutivamente presente em todos os grandes sistemas filosóficos, dos pré-socráticos aos pós-modernos (se cabe ainda designá-los como “sistemas”).

Essas observações têm como finalidade alertar contra uma certa tendência de concentrar excessivamente o ensino da Filosofia em torno dos temas éticos e sociais, em detrimento da questão central do conhecimento, que abrange a reflexão sobre os métodos e os resultados das ciências exatas e naturais.

Compreender a natureza, e o seu lugar dentro dela, é tão filosoficamente importante para o homem quanto refletir sobre a sociedade, a ética, a política ou a justiça. A relevância atual dos temas bioéticos e ambientais mostra que a compreensão da natureza e das possibilidades e limites da intervenção humana sobre ela tem uma dimensão ética que a Filosofia não pode descartar.

Sugiro, assim, que se acrescentem às competências esperadas da formação filosófica a de “relacionar o exercício da reflexão filosófica às conquistas e avanços do conhecimento científico da natureza”.

                   Brasília, 24 de setembro de 2005.
                   Rejane Xavier

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[1] Título de uma obra do filósofo alemão Max Scheler.

Um comentário:

Carmen Licia Palazzo disse...

Texto excelente e muito importante.